HQ´s no ensino superior é mais eficiente que livro texto
Já havia defendido esta mesma posição em outros momentos. Meus primeiros quadrinhos publicados surgiram a partir desta visão: como estimular os alunos (universitários) e ampliar suas capacidades de retenção e aprendizagem.
Fiz um teste entre 2007 e 2008 na Faculdade Maurício de Nassau (Recife-PE), durante minhas aulas de Cultura Brasileira para as turmas de comunicação social. Como eu tinha várias turmas do mesmo curso, era possível aplicar métodos didáticos diferentes e avaliar os resultados entre as turmas. Em uma delas passei como leitura Casa Grande e Senzala de Gilberto Freire e Passos Perdidos, História Recuperada de Tânia Kaufman em suas versões textuais (livros normais), ao tratar das contribuições dos negros e judeus, respectivamente. Em outras turmas, passei as versões quadrinizadas. As turmas que leram a versão em quadrinhos tiveram notas bem melhores na avaliação escrita (mesmas perguntas). Os resultados desta pesquisa e defesa, foram apresentadas em diversos congressos:
[PDF] A PRODUÇÃO DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS ENQUANTO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Por Érico Assis, jornalista, professor universitário e
tradutor para o blog da Companhia.
Publicado originalmente por Michele Ramos no Blog Zine Brasil. Versão Original clique aqui.
Estudo da
faculdade de administração da University of Oklahoma, a ser publicado em breve
na Business Communication
Quarterly, afirma: usar histórias em quadrinhos no ensino
superior pode ser mais eficiente que o tradicional livro texto.
Cento e
quarenta alunos de graduação participaram do estudo. Parte do grupo leu uma HQ
que trata de empreendedorismo, com a história de dois alunos que querem montar
seu próprio negócio. A outra parte do grupo leu o capítulo de um livro que
trata do mesmo assunto, com as mesmas informações.
Segundo a
pesquisa, os alunos que leram a versão em quadrinhos se saíram melhor numa
prova aplicada logo após o experimento. E conseguiram lembrar citações diretas
com mais eficiência que os colegas que leram a versão texto.
Em
experiência correlata, 114 formandos da área leram a mesma HQ e foram
consultados quanto à sua eficiência no aprendizado. Mais de 80% dos pesquisados
foi favorável à utilização dos quadrinhos.
O estudo foi coordenado por um professor que é evangelista dos
quadrinhos na educação superior, Jeremy Short. Ele lançou nos EUA HQs pedagógicas sobre
empreendedorismo e franchising e tem atépalestra num desses TEDs. É óbvio que o método é visto
com desconfiança pela classe acadêmica, sendo a principal crítica a de que os
alunos estão sendo tratados como imbecis.
Short vem de uma corrente de estudiosos que defende o potencial dos
quadrinhos como veículo de altíssima eficiência para transmitir informação
complicada. Embora esta aplicação exista desde que existem gibis — Will Eisner
fazia manuais em quadrinhos para as Forças Armadas — dá para dizer que Scott
McCloud é o santo-padroeiro da corrente. Seu Desvendando os quadrinhos,
que vai completar 20 anos, é a análise mais sensata do potencial das HQs
enquanto mídia (e meu livro preferido de Teoria da Comunicação). Provou essa
possibilidade quando o Google contratou-o para explicar, em quadrinhos, como
funcionaria o navegador Chrome e dá aulas de “estruturação de narrativa visual” mesmo para quem
não sabe desenhar — basta entender a lógica das HQs.
O
potencial está no seguinte: tudo que se pode fazer ao combinar palavras e
figuras. E também: o leitor define o ritmo de leitura (como no texto puro); há
maior envolvimento a partir do uso de narrativa dramática; a produção é mais
barata que a de um audiovisual; a portabilidade é igual à de um livro. E,
verdade seja dita, figuras são mais atraentes que só letrinhas.
Os que
tratam isto por imbecilização do ensino merecem uma migalha de atenção, pois
propostas como a deste estudo podem ser reduzidas a “livros são chatos, gibis
são legais — quero que me ensinem tudo em gibi.” Não se pode pensar assim.
Textos são abstrações, ótimos para conduzir ideias que não têm materialidade, e
enfiar-se num livro de filosofia ou matemática é exercício mental que só tem
benefícios para o pensamento analítico e crítico. Na educação, nunca se poderá
abrir mão do puro texto, pois ele não é totalmente substituível por outras
mídias. O que o estudo reforça é que, a cada objetivo e/ou tópico de
aprendizagem, pode haver mais eficiência de aprendizado com outras mídias, como
os quadrinhos.
O grande
impeditivo da utilização de quadrinhos como material pedagógico é a tradição,
combinada a certo preconceito. Pode-se investir em bons livros didáticos em
quadrinhos, mas vá instruir professores a produzir uma aula-HQ interessante com
a mesma desenvoltura que montam seus powerpoints. Nossa educação não só é
baseada na leitura de texto, mas também nos prepara melhor para a expressão em
puro texto do que em outras mídias. Motivo, aliás, pelo qual você não está
lendo esta coluna em forma de quadrinhos.
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