[Ilustração] Fiz a Ilustração da capa para a nova edição da Revista Cajueiro

 



“Cajus conversando”.

Nenhuma técnica representa mais a modernidade atual e contemporânea que a manipulação de bytes por meio dos softwares eletrônicos que nos permitem manipular as imagens. A arte digital nos possibilita desfragmentar a imagem e recompô-la em torno de uma ideia e de um conceito. Minha inspiração inicial veio das obras de Deus Sobrinho, artista plástico pernambucano, que trabalhou com pintura em resina e possui uma série de quadros chamados “Miss Caju”. Mulheres com cabeça de caju, cujo corpo sensual se constrói a partir das linhas sinuosas da castanha do caju.  Deus Sobrinho foi meu mentor durante minha formação artística no ateliê coletivo da Rua da Aurora durante a década de 1990, espaço que reuniu diversos artistas plásticos na sede da AAPP-PE – Associação dos Artistas Plásticos Profissionais de Pernambuco.

Essa ilustração se compõe de uma série de imagens de partes de um cajueiro: de suas folhagens, de seu fruto e de suas sombras características. O objetivo foi captar algumas tonalidades propiciadas por esta planta nos tons variantes de amarelo, laranja e vermelho; colocando-as em contraste com os tons de verdes preponderantes da planta. O conjunto cromático dos verdes, vermelhos e laranjas, também faz alusão a um tipo de estampa bem comum do Nordeste brasileiro: a chita, que veste a mesa, as almofadas e os encontros de bancos e acolchoados das pessoas comuns desta terra. 

O elemento principal da cena é o cajueiro e seu fruto, o caju, que são muito importantes para a cultura do nordeste. De acompanhamento ideal para a cachaça, passando pelo suco da fruta, pelo doce e pelo consumo da castanha torrada. Minha proposta foi captar esta importância ao centralizar seu fruto, colocando-o de cabeça pra baixo, de forma que a castanha se apresenta como cabeça pensante e antropomorfiza a roda de fofoca, de conversa solta e animada, característica dos centros citadinos das regiões rurais e das vilas comuns no qual o tecido e a fruta se estampam.

Como a ilustração foi pensada para a Revista Cajueiro, uma revista que versa sobre leitura, texto e informação. Foi acrescentado uma dinâmica textual em forma de diálogo que retoma um palavreado sertanejo, regional e local do nordeste. As gírias ganham expressão de identidade e atesta o lugar de fala dos cajus. Sua nordestinidade é reforçada não apenas pela imagem do fruto, mas de seus sentidos e léxicos cotidianos. Esse uso de texto, das setas indicativas das falas e o humor inerente à cena, alude à estética do Movimento Armorial de Ariano Suassuna, que reforça seu aspecto Nordestino e Sertanejo. Além disso, no conjunto geral da imagem, ao associar humor, imagem desenhada e e texto na forma de diálogos e setas em substituição aos rabichos do balão, a ilustração se vincula à linguagem dos quadrinhos, objeto que tem sido enfatizado pela revista que vem dedicando sessões inteiras a essa linguagem.

Amaro Braga. Arte digital. Arquivo exportado em Tiff. Maio de 2020.


Fiz essa ilustração para a nova Edição da Revista Cajueiro, da UFS, editada pelo Grupo PLENA, no qual tenho colaborado nos últimos anos. 



 


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