[Memória HQ] Sobre a Nanquim e os Quadrinhos em PE

Um texto de resguardo da memória de minha atuação pesquisando e desenvolvendo quadrinhos em Pernambuco. Foi publicado em um velho site e retomei aqui para preservar. Mantive o texto na íntegra, mesmo mal escrito, para preservar. Em outro momento, retomarei e poderei reconstruí-lo. A publicação data de meados de 2003, provavelmente. 


O CDICHQ, Centro de Desenvolvimento e Incentivo Cultural as Histórias em Quadrinhos, surgiu a partir  da iniciativa de jovens quadrinhístas e colecionadores de quadrinhos que se reuniam em outra organização com fins semelhantes: a Nanquim, Associação dos Colecionadores de Quadrinhos de Recife, que com o passar do tempo e crescimento de seus membros, deixou de existir. 

Alguns componentes, mais persistentes, resolveram criar o cdichq, deixando de lado o aspecto juvenil da nanquim e assumindo um compromisso mais profissional, no sentido de propagar, divulgar e incentivar a expressão dos quadrinhos na pauta artística da cidade. Não que a nanquim não tenha feito algo semelhante, fez e fez muito bem. A nanquim teve uma vida das mais duradouras em comparação a outros grupos com fins semelhantes e isso se estende as suas atividades culturais. 

A Nanquim - Associação dos Colecionadores de Quadrinhos do Recife, foi uma entidade criada para reunir aqueles jovens que colecionavam histórias em quadrinhos e que viviam se encontrando nos sebos do bairro de São José, mais especificamente no sebo de Cassiano. Era, portanto, um grupo de fãs de quadrinhos que se reuniam todos os sábados, primeiro nos sebos de quadrinhos na Avenida Dantas Barreto, em Recife, entre 1994 e 1995. Depois, com o crescimento do grupo, passaram a usar a entrada da Biblioteca Pública Presidente Castelo Branco, localizada ao lado do Parque 13 de maio, no centro da cidade do Recife.  Eu fiz parte de sua primeira e única diretoria como vice-presidente.

A Nanquim chegou a se tornar uma ONG, com CNPJ e realizou diversas ações de valorização, divulgação e orientação sobre Histórias em Quadrinhos em Recife. Enquanto a Nanquim existiu, exerceu um papel importante na cena cultural de Pernambuco. Realizou três exposições sobre as histórias em quadrinhos, iniciou uma gibiteca, ministrou palestras em colégios e manteve a chama acessa de vários desenhistas e roteiristas apaixonados por hq´s.



1997. Da esq p/ dir: Fábio, Josenildo, Eu, Gilmar, Sergio e Jonanta com Akira de fundo.

A Nanquim também foi formada por dissidente e remanescentes de outra instituição quadrinhística, a PADA, que já havia realizado uma exposição de quadrinhos na UFPE, mas que se dedicava a produção de dois fanzines o Prismarte e o Croquis, ambos com sete edições. 

A nanquim já existia há dois anos quando inaugurou sua primeira exposição no hall da biblioteca publica presidente castelo branco, no 13 de maio (centro de Recife). Foi a maior visitação da biblioteca, um verdadeiro sucesso. Inicialmente prevista para 15 dias ficou 40. com direito a palestras, filmes, feira de livros. Na ocasião se comemorava o centenário, da data oficial do surgimento dos quadrinhos (20 de janeiro). Foi uma exposição feita com o suor de todos, alguns mais do que outros, mas com uma mobilização geral e cativante. Sendo Intitulada "Centenário das Histórias em Quadrinhos".

Eu (Amaro) no centro da da Exposição do Centenário das HQs. Fiz boa parte dos textos, 
datilografados e recortados à mão e com painéis montados em cartolina. 

da esq p/ dir: Kelmer (Cidadão Kelmer que hoje é produtor cultural com eventos sobre Cultura Pop na cidade), Eu, Danielle Jaimes, (não lembro dos nomes dos dois seguintes) e Fábio (que foi o primeiro presidente da Nanquim).

A Nanquim, acertou em cheio quando inaugurou sua primeira exposição. Em 1996, as histórias em quadrinhos, de acordo com os norte-americanos, completariam cem anos de existência. E a Nanquim não deixou esta data passar em branco. Foi uma grande exposição, com mais de cinquenta cartazes, falando das mais diversas faces dos quadrinhos, os principais movimentos, os principais desenhistas, internacionais, nacionais e os locais. A exposição contava ainda com uma semana de vídeos sobre quadrinhos, palestras e mesas redondas diárias com os profissionais das histórias em quadrinhos e a amostra do seu acervo. foi um evento que Recife, ainda não tinha experimentado. 

A exposição realizada pela PADA, ocorreu num espaço sem muita acessibilidade do público geral (na UFPE), o da Nanquim, foi na Biblioteca Pública Presidente Castelo Branco, onde muitos estudantes de escolas públicas puderam ter acesso a essência das histórias em quadrinhos.

Eu, Danielle Jaimes e Roberta Cirne, em 1997, nos preparando para a entrevista com a TV Jornal.

A segunda exposição, contou com a grande participação das mulheres, pois este era o tema: "Mulheres nos Quadrinhos", de personagens à profissionais. Foi outro grande sucesso. Na época se desconhecia o papel das mulheres nas histórias em quadrinhos, tanto quanto a própria história em quadrinhos. Dentre dos mais de 30 sócios, só haviam duas mulheres: Danielle Jaimes e Roberta Cirne, por isso ganharam até matéria especial no Diário de Pernambuco. 

A segunda exposição da Nanquim, homenageava as mulheres que trabalhavam com quadrinhos e que estampavam os quadrinhos. Mais marginalizado que as histórias em quadrinhos, são as mulheres que as desenham. Nesta exposição, fizemos uma varredura sobre as personagens femininas, e das principais desenhistas envolvidas na produção quadrinhística. Tivemos a sorte de contar com no nosso grupo, com duas desenhistas, que na época produziam um quadrinho de aventura, denominado Guardiães, a produção delas era rápida e intensa, o que garantia muitas páginas. Podemos então homenageá-las na exposição. Nosso entrosamento foi tanto, ,que acabei casando com uma delas: a Danielle Jaimes.

E sua terceira e última exposição comemorando os 60 anos de Batman. A nanquim revolucionou . Foi a primeira a registrar-se como sociedade cultural... Infelizmente a responsabilidade e o tempo de alguns pilares do grupo, juntamente com o surgimento de intrigas e disputas cominou nos problemas que levaram a nanquim a dividir-se (acreditem, entre Nanquim e Grafite) e posteriormente, ao seu fim. A Grafite, obteve um pouco mais de sucesso em suas atividades, pois aglutinava em seu seio gente nova, com fôlego para trabalhar em o mais importantes, bons líderes com tempo para investir em suas atividades. Chegaram a publicar um fanzines (há quem diga que era uma revista em quadrinhos) que primava por uma certa qualidade , mas que cumpriu com seu objetivo: divulgar os quadrinhos e os quadrinhístas pernambucanos. 

O importante, para se registrar aqui é que a nanquim cresceu muito, aglutinou em seu seio a maioria das pessoas envolvidas com historias em quadrinhos que moravam em Recife. E levou, por três anos seguidos, o conhecimento sobre as Histórias em Quadrinhos para Pernambuco. E isso não deve ser esquecido.

Mas alguns membros continuaram ativos, mesmo sem  a nanquim estruturada, continuaram trabalhando e o resultado disso foi o CDICHQ.  

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