[crônica] Não deveríamos ter janelas. Nunca!

"Esperança fora da janela". 24 de agosto de 2019. 20h39. São Carlos/ SP. 



Não deveríamos ter janelas. Nunca!

São rasgos que não foram feitos para você passar, apenas para deixar as coisas entrarem...

Quando você olha pela janela, tem esperança de tempos melhores... Mas, quando você sai de casa, o tempo muda. Nunca é o mesmo que você vê daquele ponto... a janela lhe ilude, sobra o desgosto e um sadismo mudo.

A janela nos permite vê a vida do vizinho e sofrer desejando aquilo que você não tem (e só sabe disso, porque vê, nos outros, o que lhe falta e escapa).

Janelas nos dão sempre uma falsa sensação ... A janela está lá apenas para caçoar de nossas esperanças, mas quase sempre, precisamos fecha-la.

Em verdade, ela passa mais tempo cerrada que convidativa.

 É um escárnio ...

A luz que entra é incômoda.
O sol que entra é incômodo.
A chuva que entra é incômoda.
O vento que entra é incômodo.

 Não deveríamos ter janelas. Nunca!

 Apenas uma boa e velha parede decrépita,  manchada e craquelada pelo tempo. Nos protegeria de toda esta selvageria que nos cega a vida e mina o vigor.

Afinal, uma parede, por mais desgastada que seja, ainda sustenta o teto. Por mais suja que esteja, nos protege... Seja lá do que for...

Estes retângulos não passam de feridas que nunca cicatrizam, pois são constantementes abertas... apenas um buraco que compromete a estrutura e deixa a frieza das intempéries entrarem...

Fechem, enquanto podem.
Fechem, antes que suas dobradiças quebrem.
Fechem, antes de olhar o que tem lá fora.
Fechem, antes que você pule por ela.

E não se enganem...
Você passa, a janela fica.

Recife

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