[Live] Debate sobre Pós-Verdade
Na quinta-feira, 1º de abril de 2020 a Profa. Ma. Ana Lucia Maia, por vias de seu canal do Instagram @maia.prof.ana, me convidou para um debate sobre "Pós-verdade".
Coincidentemente, no dia nacional da mentira, discutimos os limites entre verdade e mentira e como a Pós-verdade se estrutura no meio midiático.
Uma dupla coincidência ficou para o fato do termo ter surgido em uma postagem de um blog sobre política de David Roberts, justamente, em 1º de abril de 2010, ao se referir à crise de valores ocasionada pelos políticos profissionais e seus discursos que suplantavam a verdade, ultrapassando a dimensão de negação e por isso "após" a verdade. Depois da verdade.
Nessa nova lógica a verdade não é mais falseada ou contestada, ela passa a ser uma dimensão secundária e até mesmo não importante. A ideia é que a convicção pessoal prevalece sobre as dimensões do fato, da veracidade e da confiabilidade científica.
O fenômeno, aponta alguns estudos (Cf. SANTAELLA, 2018) se deve a três fatores concatenados: (1) a crescente polarização política, (2) a descentralização da informação e, (3) o ceticismo político-midiático. Como Umberto Eco afirmou, a internet (se referindo às redes sociais) elevou o idiota às alturas.
Há uma clara associação do poder que a mídia exerce sobre essa noção e sua percepção. Weber (1999 [1922]) já antevia o poder que o líder carismático pode exercer sobre uma plateia, subvertendo a própria capacidade de discernimento dos indivíduos sobre a dimensão política. O que encontra certa reverberação quando pensamos na imagética da sociedade do espetáculo (DEBORD, 1997 [1967]), que colocam nossas relações sociais mediadas pela imagem, levando-nos a uma retórica da pós-verdade que tanto se estrutura em torno da imagem, de seu suporte midiático e do carisma que ambos os processos estabelecem ao se aliarem ao perfil humano de agente propulsor da informação. E foi na Dialética do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer que encontramos a percepção clara, indelével, de como é necessário criticar toda a informação recebida para reverter o risco da manipulação pela omissão. E como nos alertou os Thomas, no Teorema de Thomas (THOMAS; THOMAS, 1928), se as pessoas definem certas circunstâncias como reais, elas se tornam reais em suas consequências.
A popularização do termo parece que se desenvolveu por vias de algumas matérias do jornal The Economist por volta de 2016, ao inserir o termo em seus artigos, obviamente, se dirigindo aos mesmos aspectos da ação de políticos estadunidenses na construção de seus discursos que rejeitam fatos científicos e propagam fake news.
Veja nosso debate a seguir: https://www.instagram.com/tv/CNJIimUggjs/?utm_source=ig_web_button_share_sheet
Referências:
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
SANTAELLA, Lúcia. A pós-verdade é verdadeira ou falsa? Barueri: Estação das letras e cores, 2018.
THOMAS, W.I.; THOMAS, D.S. The child in America: Behavior problems and programs. New York: Knopf, 1928.
WEBER, Max. Economia e Sociedade. São Paulo/Brasília: Imprensa Oficial/UnB, 1999.
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