[Banca de Doutorado] TEOLOGIA DO CORPO NO RETRATO DE DORIAN GRAY

 



Fui convidado pelo Prof. Dr. Iuri Reblin (PPGT/EST) para a banca de avaliação de Doutorado em Teologia da  Eliana Cristina Caporale Barcellos, intitulada TEOLOGIA DO CORPO NO RETRATO DE DORIAN GRAY: UMA ANÁLISE DA FINITUDE E DA VAIDADE NA PERSPECTIVA DO PENSAMENTO DE RUBEM ALVES, que aconteceu em 25 de agosto de 2020. 

Participaram da banca: Profa. Dra. Carolina Bezerra de Souza (PPGT/EST), Prof. Dr. Marcelo Ramos Saldanha (PPGT/EST) e Profa. Dra. Daniele Gallindo (UFPel).

Resumo: As transformações do mundo moderno há muito têm proporcionado inúmeras discussões, em que diferentes áreas do conhecimento possam se encontrar. É nessa perspectiva do encontro, que a presente pesquisa busca travar aproximações entre o campo teológico e o campo literário. Muitos autores e autoras têm contribuído para que esse diálogo seja fortuito e resulte em novas percepções que auxiliem na construção de uma base epistemológica. Nesse sentido, no intuito de corroborar com esse empreendimento, pretende-se analisar a obra ficcional “O Retrato de Dorian Gray” sob um viés hermenêutico antropológico teológico. Assim, evidenciam-se interfaces existentes entre a Literatura e Teologia, uma vez que é da análise hermenêutica que o fazer teológico encontra acesso à interioridade humana, como também, à revelação divina, essa última, condição primordial da Teologia.  A análise da obra ficcional, a qual faz alusão à finitude e à vaidade, torna-se pertinente ao permitir trazer a discussão inquietações humanas presentes até os dias atuais, bem como a perspectiva alvesiana, na qual traz a corporeidade como centro de seu pensamento teológico. Diante disso, a pesquisa procura responder: Como a obra ficcional de “O Retrato de Dorian Gray” expressa as preocupações teológicas da finitude e da vaidade a partir de um diálogo com a teologia do corpo de Rubem Alves? Para tanto, utiliza-se o método cartográfico-crítico que dispõe de diferentes etapas, que por sua vez perfaz a obra literária em uma investigação detalhada, ao trazer uma visão macro e micro do texto em análise. Constata-se, com isso, que a Literatura é fonte de possíveis reflexões teológicas e pode agregar a Teologia um discurso profícuo, as quais em suas particularidades remetem a uma compreensão humana e de suas apreensões diante da vida.


Minhas considerações:

Uma interface entre o discurso teológico e literário, propondo-se a realizar uma interlocução. O princípio teológico passa a ser foco para entender uma dimensão da cultura pop. Sua preocupação é avaliar quais seriam as contribuições do campo literário à reflexão teológica, a partir de uma Teologia do Corpo em Rubem Alves.

Sua organização é didática e preocupada em situar o leitor. Discutindo a teologia da literatura, a dimensão romanceada da obra, a contextualização histórica da sociedade em que a narração acontece. O levantamento sobre a obra e as vozes que tentaram interpretar o texto e seus múltiplos temas tangenciais. 

A pesquisadora se propõe aplicar método cartográfico-crítico do teólogo Iuri Andréas Reblin que consiste em seguir “1) Leitura da obra; 2) Estrutura narrativa; 3) Contexto criativo e 4) Historicidade”. Porém isso acontece na página 60, praticamente no meio do trabalho... 

Aqui a ideia de que a revelação acontece pela palavra tem duplo sentido. O processo criativo da Literatura e a hermenêutica da teologia compartilham muito mais que os caracteres que marcam a celulose e o coração das pessoas. E como você pontua bem, suas influências são múltiplas e se retroalimentam de maneira continuada. Inclusive ao afirmar: “a Literatura permite prospectar a realidade social em que vive os indivíduos.” (p.33). É a encenação da vida humana que passa a ser palco para discutir elementos importantes como fé, crença e prática... principalmente quando eles caminham para uma dimensão negativa, do erro e da culpa. 

Desta forma, a teologia da cultura de Paul Tillich se torna imperativa. Uma teologia inserida na narrativa da vida das personagens. 

A arte enquanto expressão teológica é presente na teologia islâmica e no hassidismo judaico. Assim como entre os Vedas. Livros de versos e falar em versos era uma forma de comunicação com o divino e o sobrenatural, não à toa, boa parte das práticas ocultistas e de magia cerimonial usam esquemas litúrgicos semelhantes. 

A discussão sobre Corpo e Corporeidade, tanto histórica como processual. A problemática que se desenvolve entre “a associação entre aparência (corpo) e psiquê” é a mesma que aflige a dimensão da alma e comportamento no ethos religioso, principalmente o de base protestante no qual dentro e fora se tornam um único espaço elo qual a benção divina precisa fluir e se manifestar...

O texto literário da obra coloca em xeque sensações e resultados. É uma tensão constante entre o que é dito e o que é sentido, mas também entre o sentimento bom e o ruim. Entre prazer e desprazer. Não há recalque ou o retorno do recalcado Freudiano no material. Há uma alusão a ideia de prazer e dor ou prazer e sofrimento, pra ser mais específico que circunda a dimensão da materialidade do corpo e da transcendência da alma ou do social. Aquilo que eu faço na frente de outras pessoas e em público e o que eu faço com outras pessoas no particular. O quadro como um reflexo do eu, do ID. E os demais personagens (e porque não as escrituras) como o superego. O leitor passa ao papel de Ego ao avaliar tudo, afastado e indeciso sobre os destinos e ações de cada um. Sempre refletindo: “vale à pena?”. Aqui Rubem Alves e Oscar Wilde se encontram com o bacia semântica do discurso antropológico defendido pela antropologia simbólica e cultural mostrando-nos a negação suprema de todas as culturas: o medo da morte (ou a negação do envelhecimento que leva até a morte) e que tanto sustenta tanto o texto teológico, quanto o literário analisado. 

Entretanto, Eliana peca em não atender uma varredura mais ampla sobre a literatura internacional sobre sua abordagem. Principalmente porque há diversos estudos sobre Oscar Wilde e Dorian Gay. Faz uma contestação histórica um pouco incipiente sem se aproximar da historiografia oficial sobre o período. Sua dimensão literária também é insuficiente no que se refere ao diálogo com as teorias deste campo. 



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